Ela é feita com linha e agulhas, mas não é considerada
crochê nem tricô. Estamos falando da renda turca, antigo tipo de artesanato
cuja confecção se assemelha à fabricação das redes de pescadores. Com esta arte
é possível produzir toalhas de diversos tamanhos, vestidos, cachecol,
casaquinhos, bolsas, colar, brinco, guarda-copos, roupas e sapatos para bebês,
entre outros inúmeros itens.
Basta usar a criatividade, aponta a artesã Solange Maria Gonçalo de Oliveira,
que há mais de 30 anos cria artigos em renda turca em Bauru. Ela aprendeu a
fazer esta arte manual aos 14 anos de idade e, desde então, vem se dedicando ao
trabalho.
“Uma senhora ensinou renda turca para mim e para minha irmã. Na época fiz uma
toalhinha, mas depois passei a me dedicar a outros trabalhos manuais, como
crochê, bordado, etc. Passado algum tempo, resolvi fazer um vestido com a pala
de crochê e o restante com a renda turca. Aí não parei mais”, conta.
De acordo com Solange, como o próprio nome sugere, a renda turca, muito
provavelmente, vem da Turquia, mas não existem registros oficiais apontando a
data e local de origem desta técnica. A diferença entre ela e os trabalhos em
crochê e tricô é simples, explica. “É um trabalho com linhas que não
desmancha”, diz. Em outras palavras, na renda turca, cada ponto traz um nó e,
por isto, o trabalho fica todo amarrado; se alguém, acidentalmente, puxar um
fio, ele não desmancha facilmente, como pode ocorrer com o tricô e o crochê.
Além disto, observa a artesã, os artigos em renda turca levam mais tempo para
serem fabricados. “Uma toalha demora de 20 a 30 dias para ficar pronta”,
exemplifica. Segundo ela, o ponto básico deste artesanato é o losango, mas é
possível fazer peças com cachos (tipo de ponto) ou diversos desenhos criativos.
A produção da renda turca é feita com agulhas totalmente artesanais, já que não
existem materiais específicos à venda. Vale desde o palito de sorvete à agulha
de tricô cortada ao meio. Lápis fino, ferros retirados de sombrinhas e “raio”
de bicicletas também são utilizados. Solange aponta que são necessárias três
agulhas para a execução dos trabalhos: uma de tapeçaria, uma de madeira e outra
de ferro.
Divulgação
A renda turca é uma técnica pouco conhecida no Brasil, aponta Solange. Segundo
ela, apesar de antiga, a arte estava perdida no tempo e um pouco esquecida,
principalmente pelos jovens. Por isto, ela realiza diversas iniciativas para
resgatá-la. Uma deles é a criação do site www.rendaturca.com.br,
o qual contém diversas informações e imagens de produtos feitos em renda turca.
Após a criação do site, Solange passou a mandar e-mails divulgando o seu
trabalho para diversas cidades, incluindo países do Exterior. Tanta dedicação
rendeu-lhe em um convite para participar de uma revista especializada em renda
turca, da editora Minuano. Fora isto, a artesã faz trabalhos em renda turca sob
encomenda e dá cursos multiplicar a técnica entre outras pessoas. “O
artesanato, para mim, é tudo. Além de arte e fonte de renda, também funciona
como uma terapia”, comenta.
Singeleza
No Brasil, são poucos os lugares que cultivam a tradição da renda turca. Mas em
Sabará, Minas Gerais, esta técnica, conhecida por renda turca de bicos, foi
declarada patrimônio cultural e histórico por meio de decreto.
A técnica de trabalho em Minas é mantida em segredo, sendo que os pontos
utilizados são na forma de um quadrado e o modo de confecção fica em forma de
losango. Já na Paraíba, para evitar a extinção da arte, uma velha senhora
procura ensinar singeleza, como a renda turca é conhecida naquele local, para o
diversas pessoas que tenham interesse neste artesanato.
Fonte da noticia: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=104400&ano=2007 - Jornalista Cristiane Goto -
20/05/2007
|